Por um relógio novo!

Ô ano que num acaba esse tal de 2007... agora só se fala no infeliz que por usar relógio analógico quebrou o esquema milionário e cenográfico da Prefeitura! Só precisou dum clique e babou tudo! Só em Copacabana!

A contagem? Ah, desconta, tá?

2 milhões de pessoas na festa de Copacabana e 6 baleados, dois mortos - um de bala perdida e a outra caiu da janela num prédio na Barata Ribeiro... mas, entre mortos e feridos, salvaram-se todos!

Antecipado ou não (será que Freud explica isso? 2007 nem foi um ano tão ruim!) o fato é que o espetáculo dos fogos é algo alucinante, um momento de catarse coletiva, onde todos os olhos se voltam pro céu, e é impossível pensar em mais nada além dos fogos! E isso é bom porque temos a certeza que pelo menos naqueles 10 minutos iniciais (eu duvido que você também não tenha achado over e depois de algum tempo também tenha acordado do transe) não pensamos em nada egoista, nada ruim e talvez isso seja paz!

Vista de todos os ângulos (de qualquer mesmo) a festa de Copacabana é o máximo! E eu ainda me lembro quando ainda não havia nada disso, só as pessoas soltando rojões e morteiros da praia e o primeiro Reveillon com a cascata do Meridién, e nem faz tanto tempo... virou esse super-espetáculo em, sei lá, 30 e poucos anos? 30 e poucos anos... nossa! Como a perspectiva fica diferente.

Mas foi de comemoração de vizinhos prá referência mundial em Reveillon, naquela que é a referência mundial em Praia! Só em Copacabana mesmo e olhando assim faz todo sentido!


Revellon 2008 em Copacabana


2008-01-02 12:59:59

2007... atualização! Em 2008... inovação!

Se você acompanha o nosso site, percebeu que em 2007 o Copacabana.COM consolidou seu conteudo atualizando centenas de páginas e todas as biografias, incluindo várias dezenas de fotos na nossa galeria, fizemos testes com vídeos e os implantamos em muitas páginas com grande sucesso e enorme receptividade por parte dos nossos visitantes!

Em 2007 nos iniciamos de forma profissonal no comércio eletrônico, onde começamos a entender o que nosso público precisa, quando interessa e fazendo com que a sua experiência dentro do site seja cada vez melhor e integrada com seus desejos.

Iniciamos a implantação dos Google Maps, através da plataforma de programação, onde pudemos criar aplicativos funcionais como o mapa que exibe a localização dos hotéis em Copacabana e também permite que você faça sua reserva de hotel e pousadas a partir do mapa e os mapas das ruas, onde moradores selecionados podem incluir fotos, vídeos e textos dentro dos mapas das suas ruas e contar um pouco da sua história por um ponto de vista mais pessoal, diferente do conteúdo biográfico histórico que vinhamos apresentando desde a criação do site, além de uma grande atualização no nosso cadastro de Negócios e Serviços.

E é aí que o site Copacabana.COM, ao completar 12 anos ininterruptos online em janeiro de 2008, gostaria de falar sobre a nossa parceria com a Google, que é uma empresa que dispensa apresentações!

O Copacabana.COM vem utilizando e testando as plataformas, APIs e serviços do Google desde o seu início.

Você já se acostumou a ver os links patrocinados dentro do nosso site que são fornecidos pelo AdSense que é um serviço do Google. Nós também, neste ano de 2007, começamos a utilizar a plataforma de programação do Google Maps para a criação dos mapas (mencionado acima) que faz muito sucesso, a plataforma de vídeos que usamos é a do YouTube (líder mundial) que também pertence ao |Google, o sistema de busca dentro do site Copacabana.COM é o Google Search, então nada mais natural que firmássemos uma parceira com o Google!

Nesta parceria o Copacabana.COM se tornou um ISP (Internet Service Provider) Partner do Google e com isso ganhamos a possibilidade de oferecer recursos que antes eram impossíveis.

Estamos oferecendo a todos os moradores de Copacabana, que se cadastrarem em http://nossa.copacabana.com a possibilidade de ajudarem a fazer parte do conteúdo do Copacabana.COM e como parte do pacote oferecemos uma suite de aplicativos com agenda, planilha e editor de texto online, messenger para conhecer e falar com seus vizinhos, página inicial personalizada e email voce@copacabana.com com 5 gigs de espaço! Inicialmente selecionaremos apenas 500 moradores que estejam interessados em colaborar, por isso corra e garanta logo o seu pacote Copacabana.COM/Google!

Nosso projeto para 2008 é fazer um site mais voltado para seus moradores, permitir que nossas páginas sirvam de veículo para suas histórias, suas imagens, que o Copacabana.COM seja a sua memória sobre o bairro de Copacabana!

Feliz 2008!

Marcelo Antelo
marcelo@copacabana.com

2007-12-25 11:28:59

Repousa em paz, meu irmão!

Lélio era meu amigo.

Amigo desde de sempre, me lembro dele, quando eu ainda era pequenininho. Irmão da minha mãe, esse era do bem... um sujeito sem mágoas, feliz do jeito dele, antes de ser meu tio era meu amigo!

Lélio, tinha muitos defeitos, e quem de nós não os tiver que passe aqui depois prá pegar a medalhinha, mas era meu amigo querido e vai me deixar muitas saudades!

Ele morava aí, no posto 5 em Copacabana, mas tinha seu escritório bem ali nas pedras do Arpoador... às vezes me ligava de noite prá comentar as mumunhas da política, ah! E como ele gostava duma política! E dos seus filhos... nossa! Era louco de amor por eles, louco de amor pela vida!

E dessa forma Copacabana vai perdendo suas figuras.

2007-09-25 16:08:44

Matinés do Olímpico!

Tenho me dado conta da diferença de ponto de vista de quando a gente é criança e depois que a gente cresce. E quando eu falo em ponto de vista me refiro a parte geográfica mesmo, a altura dos olhos mais específicamente.

Lembro das matinés que eu frequentei em Copacabana! A minha primeira foi no Olímpico Clube que fica ali na Pompeu Loureiro. Meu pai me levou de carro ate a porta, eu tinha 13 anos recém-feitos, compramos os ingressos, e entramos naquele corredor que levava até o salão, o salão era enorme (daí a diferença na perspectiva, ele nem é tão grande) onde já tocavam aquelas músicas inesquecíveis... Sha na na na Sha na na na Hey Hey Kiss Him Goodbye...

No comando do som dois malucos que depois se tornaram lendas Ademir Lemos e Monsier Limá, hehehe! Procurei alguma foto do Olímpico nessa época (na verdade não achei nada de nenhuma!) e não rolou! Bebida? Droga? Nada disso ali o lance era dançar, zoar como se diz hoje em dia, isso era em 1975, geração cocota, pós-paz-e-amor! Tênis pampêro, calça Lee quatro botões, camisa ValSurf ou Hang Ten esse era o uniforme fora da escola de todo mundo!

E isso remete até as turmas das Ruas, que é um fenômeno muito interessante de Copacabana! Pela evolução das turmas de Copacabana podemos perceber a liberalização dos costumes e a mudança no comportamento social com a introdução das armas de fogo no início dos anos 80!

Nessa época eu morava na Rua Tonelero esquina com a Hilário de Gouveia, mas "andava" ali no Morrinho que fica ali na Rua General Barbosa Lima, tinham dois irmãos que andavam ali nessa época o Sérgio e a Cláudia... deixa prá lá! Bachman Turner Overdrive emplacava vários hits e na matiné a turma fazia duas filas com os meninos dançando de um lado e as meninas do outro... num efeito... digamos... interessante!

E não tinha essa parafernália toda de luz e som, mixagens, nada disso! Eram os sucessos rolando e a galerinha se divertindo prá voltar prá aula na segunda! Um tempo depois começaram os atos de vandalismo, brigas de turma depois da festa, brigas dentro do baile, até que acabou!

Depois veio a Tropicana no Canecão, mas aí eu já não me adaptei muito... era discoteca, e eu achei isso tudo muito esquisito! Aquilo num era dança de homem!

Depois o Limá voltou com a domingueira do Le Bateux, talvez em 78 (?), o fato que nessa época eu já andava na Hilário mesmo, e daí que ali eu estava em casa! Foi uma época muito legal, muito skate no Bairro Peixoto... surfe de peito em Copacabana, Posto 5... muita coisa proibida... muito show no Tereza Rachel! Foi num desses shows, que eu penetrei (depois eu conto mais detalhes!) do Pepeu Gomes, acho que foi o do disco Na Terra a Mais de Mil, aquele que tinha o Brilho da Malacaxêta, sei que ele entra no palco com o violão e diz:

- Galera, vou mostrar uma música que eu acabei de fazer agora há pouco... Você pode fumar baseado...

Vamos dizer que foi minha entrada "oficial" no Rock´n Roll... 1978 em Copacabana!

2007-07-23 10:53:43

A caminhada do General

- Quando eu tinha a sua idade todo mundo me dizia que eu era a cópia do Victor Mature! - dizia o General reformado Augusto Siqueira Neto, enquanto, orgulhoso, estufava o peito.

Realmente, do alto dos seus 68 anos, forte, espadaúdo e bronzeado como um surfista havaiano, o general tinha boas razões para se orgulhar de sua saúde, obtida às custas de muita disciplina, que incluía uma dieta restrita, 1.000 abdominais diárias e uma caminhada de 8 km pelo calçadão da avenida Atlântica, todos os dias, - "Mesmo que chova canivete." - dizia o general.

Embora ele negasse, todos os amigos afirmam que ele só mora na rua Siqueira Campos, porque considera que ela é a rua dos "Siqueiras".

- Veja o senhor, Dr. Luiz, a que ponto nós chegamos. - falava o general para este ouvinte ofegante, que tentava acompanhá-lo, em seu périplo, às 7h00 da matina, de uma fria e nevoenta manhã de outono - Ontem no Mundial (o Supermercado Mundial), aquele camarada do alto-falante avisava aos clientes para que colocassem suas bolsas sobre as barrigas, por causa dos furtos que estavam acontecendo. Que vergonha, isto é um absurdo! - O general ficava vermelho e as veias da cabeça saltavam enquanto falava. Quem era eu de contrariar.

- É sim, general. É um absurdo - concordava eu, com um meneio de cabeça.

E continuou: - "Olha, Dr. Luiz, eu não gostava do Lacerda, era um chato, um verdadeiro corvo, mas fez um bom trabalho com os comunistas e com os desgraçados de Copacabana".

- Mas como assim, General? Falam até que mandou afogar mendigos e...

- Boatos! Boatos! Nunca se provou nada disso! - os olhos irritados do general não deixavam margem a dúvidas, o Lacerda era bom demais.

- É verdade, general.

- Eu sei, eu sei. - e prosseguia - No governo do Lacerda a gente podia andar na rua, não tinha pivete, nem mendigo, nem este monte de postitutas no calçadão. Eles eram recolhidos, os menosres iam para o SAM onde tinham casa, comida e educação. Os marginais, ora, prá onde que tinham que ir? Iam pro xilindró mesmo, cana dura, que é o lugar deles.

E continuava o general: - Todo mundo fala mal, também, do governo militar, mas naquele tempo não tinha essa bagunça não. Lugar de pivete, ladrão, traficante e comunista era na cadeia.

É general, mas tinham as torturas... - tentava ponderar.

- Exagêro. Todo mundo sabe disso, ora, Dr. Luiz. - prosseguia o general - Que a tortura existiu, todo mundo sabe. Mas eu quero saber é o seguinte: como se tira informações de um criminoso? O senhor acha que é oferecendo flores e bombons?

- Não general, só não acho certo a tortura. Cadeia, vá lá, mas só depois de julgado e condenado. Tenho muito medo da justiça feita por quem não é capacitado para tal - ponderei com o general.

- Concordo, Dr. Luiz, mas o que o senhor pensa do Fernandinho Beira-Mar? E do Elias Maluco? Ah, se estivessem na minha mão... Já tinham passado o nome, telefone e o endereço, com CEP, de todos estes malditos traficantes. E esses maconheiros, filhinhos de mamãe? Tinha era que prender todo mundo. Queria ver se o crime não diminuía...

- É general. Pontos de vista, né?

Nesta altura um ventinho frio começou a bater lá na altura da rua Miguel Lemos.

- Pô general, tá frio até prá pinguim.Acho que vou voltar.

- Ah, vocês jovens precisam de um treinamento, estão muito fracos.

- Bem general, obrigado pelo "jovem", mas vou ter que voltar. Até amanhã! - me despedí com um aceno rápido.

- Até amanhã, senhor Luiz, mande lembranças prá sua senhora.

E, aos poucos, o nevoeiro foi engolindo o general e os seus ideais de ordem e justiça.

2007-06-25 14:31:19

Ed. Copamar




Essa é a esquina da Rua Ministro Viveiros de Castro com Ronald de Carvalho, em Copacacabana, que foi reproduzida na cidade cenográfica Projac, pra novela Paraíso Tropical. Com vários prédios art-deco muito bonitos, construidos há pelo menos 60 anos, essa esquina fica entre a R. Barata Ribeiro e a Praça do Lido, à duas quadras da praia.



Aqui sempre têm muitos "burros sem rabo", os conhecidos e tradicionais carrinhos manuais para o transporte de pequenas mudanças pelo bairro.
Nessas ruas também acontece uma feira-livre muito movimentada, todas as quintas-feiras, mas nada disso aparece na novela.



O Ed. Palacete Oceânico, com suas pastilhas rosadas e o portão de ferro dourado, na Rua Ministro Viveiros de Castro 229, foi a inspiração para o Ed. Copamar – cenário reconstruido fielmente na Projac para representar a Copacabana romântica de Paraíso Tropical.



O Ed. Copamar foi criado por Gilberto Braga e Ricardo Linhares como um núcleo dramático para abrigar a diversidade de personagens que caracteriza o universo de Copacabana. Lá moram o vacilante Heitor (Daniel Dantas), a gengivuda Neli (Beth Goulart), a semi-virgem Camila (Patricia Werneck), a síndica Jabiraca Iracema (Dayse Lucidy) e a anã Dinorá (Isabela Garcia), entre outros.

Fotos - Jôka P. - Postado originalmente por Jôka P. no blog http://www.avenidacopacabana.blogspot.com/ e republicado com permissão. Para mais posts do Jôka P. no Avenida Copacabana clique aqui!

2007-06-18 09:45:08

A namorada de toda vida (e eu nem imaginava...)

A mais pura verdade!

As lembranças podem enganar a gente. O tempo passa, a gente cresce e num belo dia mostra a foto e aí tudo vem a tona.

Eu me lembro que era um corredor comprido, tinha duas filas de crianças a minha, dos grandes e a dela, dos pequenininhos. Ela me chamou a atenção no primeiro momento, sabe tipo filme, em camera lenta... pois é, prá mim, pelo menos foi desse jeito mesmo! Ela era linda, lourinha de olhos muito verdes, bem novinha, nunca esquecí esse momento. Eu passando prum lado rumo ao bebedouro e ela indo pro outro para a sua sala de aula.

Copacabana é demais! O ano era 1969, o colégio chamava-se Luluzinha e ficava numa das ladeiras da Rua Pompeu Loureiro. Eu me lembro que nessa época a minha mãe costumava me levar até a entrada do
Túnel Major Rubem Vaz e dalí eu seguia alegremente sozinho, menino grande, rumo a escola. Será que o que me movia já era essa menina? Daí também é querer ter muita memória e isso já perdí faz um tempão! Mas eu ia prá escola até que nós tiramos a foto, naquele dia nublado de 1969. É aquela foto da turma, todo mundo sentadinho, alguém segurando a tabuleta com o nome do colégio e a data do evento.

Passados quase 30 anos (ela vai me matar, hehehe) num belo dia, numa reunião de família alguém fala no Luluzinha e a mãe dela detona: "ela também estudou lá, eu tenho até a foto..." e vrum! Era a foto da turma dela, tirada no mesmo dia e ano, no mesmo colegio, no mesmo lugar, embaixo daquela árvore! Eramos os dois, juntos, parecia coisa de filme! Mas foi a mais perfeita realidade.

Estamos namorando desde 1984, mas já nos conhecíamos desde 1969 (pelo menos eu já sacava ela, hehehe), eu falo que eu sempre me lembrei dela, mas ela não acredita! Mas que eu amo muito a Inês, isso ninguém duvida!

Pros muito sortudos no amor, como eu, um ótimo dia dos namorados, e prá aqueles que ainda procuram um grande amor, uma dica: pega aquelas fotos e dá uma conferida, quem sabe naquela caixa esquecida dentro do armário, não está a sua namorada de toda vida, e você nem imaginava...

2007-06-12 08:11:53

Dona Maria Eudóxia e o PAN 2007

Dia desses encontrei com dona Maria Eudóxia, na fila da caixa do supermercado Zona Sul. Dona Eudóxia é uma católica fervorosa, carola assumida, e não perde a missa das 7h00 na Igreja de São Paulo Apóstolo. Mora num ótimo apartamento de 4 quartos da rua Leopoldo Miguez, sozinha há um ano, desde que perdeu o seu esposo de muitos anos, vítima de um câncer, que o levou em poucos meses.

Para manter o seu apartamento dona Eudóxia faz das tripas coração. Não é fácil pagar, com a pensão, o condomínio e o IPTU - dos mais altos da cidade -, e ainda sobrar uma grana pros remédios, pra comida e plano de saúde. Mas ela vai levando, cheia de fé.

Ia me dizendo a dona Eudóxia uma coisa que eu não sabia. Dizia ela:

- Seu Luiz, o senhor viu o que fez o nosso alcaide? Tirou os pivetes e as prostitutas da Atlântica. Tudo pro PAN 2007.

- Não notei, não. Que bom, né? Aumenta a segurança.

- Que bom nada... Ele empurrou todo mundo pra Leopoldo Miguez e pra Pompeu Loureiro.

Fiquei surpreso, mas nem tanto. Se a dona Eudóxia estava dizendo é porque devia ser verdade.

Resolvi dar uma volta pelo posto 5, no comecinho da noite, e que surpresa. Prostitutas faziam ponto na rua Pompeu Loureiro entre a Bolívar e a Barão de Ipanema. Cheio de coragem, mas sem levar nada de valor, entrei pela rua Constante Ramos e depois caminhei pela rua Leopoldo Miguez.

E não é que a dona Maria Eudóxia tinha razão? A rua Leopoldo Miguez estava cheia de mendigos, pivetes, moradores de rua em geral e várias rodas de jogatina de cartas, um verdadeiro bingo ao ar livre.

Fiquei triste. Sempre achei que a rua Leopoldo Miguez era uma das ruas mais lindas e arborizadas de Copacabana. É uma pena que caminhar por ela, hoje em dia, dê mais medo do que prazer.

Mas, motivado pela fé de dona Maria Eudóxia, tenho ainda a esperança que o nosso prefeito volte seus olhos para nosso esquecido bairro, com exceção da Avenida Atlântica, e nos ajude a equacionar este problema tão espinhoso.

LOZ - http://iabasse.blogspot.com/

2007-06-11 22:23:23

Olhai os lírios de Copacabana

Imagine o lugar mais decadente do mundo. Eu o chamo de Copacabana. Morei lá dos 19 aos 22 anos. Numa fase emergente da minha vida. Do K11 para a “Princesinha do Mar”. Não estou querendo contar vantagem nem provocar inveja, mas mudar de bairro assim, da noite para o dia, não é pra qualquer um. Graças à minha amiga de colegial, a Luciane. Sim, aquela tricolor doente.

Fizemos o segundo grau em um colégio tradicional em Nova Iguaçu. Lá nos encontramos carteira a carteira. Ficamos muito amigas nem sei como, pois éramos totalmente diferentes uma da outra. Devíamos ter algum talento para conviver com a diversidade. Nunca brigamos na vida. Estudamos três anos juntas e depois moramos mais três e nenhuma briguinha para contar aqui.

Acontecia uma coisa engraçada que só a Física Quântica explica: na horinha exata em que uma abria os olhos de manhã, a outra também abria. Era incrível isso. Nossos relógios biológicos eram totalmente sincronizados. Dizer que ficávamos menstruadas ao mesmo tempo nem precisa.

Prestes a completar 19 anos, meu sonho era morar sozinha. Um dia vem a Luciane dizendo que a mãe dela comprara um apartamento em Copacabana e que eu poderia morar com ela e com o irmão lá. Nos três. SOZINHOS. Sem pai, nem mãe.

Há sonhos que a gente nem precisa sonhar. Esse foi um deles. Aconteceu antes de eu imaginá-lo.

Então fomos para Copacabana, Posto 2, perto da Prado Junior (na época, rua do tráfico e da prostituição), num apartamentinho quarto e sala, onde o quarto era dividido por um armário. Lado das meninas e o outro do menino. Ainda bem que ficávamos do lado onde havia janela. Janela essa que dava para os fundos de outros prédios e pela qual eu gritava, segundo a Luciane me lembrou recentemente: “Quero pãooooo!!”

Eu e a Luciane compartilhávamos um meio de um quarto e sala. Ou seja, eu morava em um quarto de um quarto. O que mais tarde se tornou um terço de um meio de um quarto e sala, quando a Angélica veio morar com a gente. Luciane também me lembrou que um dia eu caí do triliche em cima da nossa amiga.

Sem contar com a Lílian que aparecia do nada. A “mansa”, como a chamávamos. Termo que aprendemos em nossas viagens para Ouro Preto e que significava uma pessoa folgada. Essa era a Lílian Mansa. Esvaziava a geladeira, mas preenchia aquele lar com sua energia positiva.

O apê ficava num primeiro andar, bem em cima de um supermercado, que volta e meia realizava reformas estruturais. Éramos obrigadas a acordar às 7 horas com martelo batendo na orelha. Aquele “cheirinho” básico de supermercado já fazia parte da família.

E, diante de tantas adversidades, eu e a Luciane nunca brigamos.

Nessa época eu estudava na ECO (Escola de Comunicação da UFRJ) e pegava o 121, Copacabana—Central. A vantagem era que eu saltava no segundo ponto logo após o túnel. Ou seja: mal entrara no veículo lotado, já desovava. Um luxo só. Grande vantagem de se morar em Copa.

Outra era a curta distância da nossa casa até a praia. Uma quadra. Sim, umazinha apenas. A desvantagem é que aquele trecho de areia, banhada com água refrescante, era freqüentado por hordas de argentinos. Eles tratavam a gente como “moças fáceis dando mole”. E isso para eles não era redundância. Difícil e dispendioso convencer os cucarachas que éramos moças de família.

Eu e Luciane passávamos batido pelas intempéries. Nos divertíamos, conhecíamos gente nova, Legião Urbana e desfrutávamos o início de nossas vidas. Aquela época maravilhosa e irreversível, quando a vida está começando e a temos todinha para errar.

Acho que por isso eu e Luciane nunca brigávamos. A gente olhava junta para frente. Não tínhamos tempo para picuinhas. E florescemos na decadência como os lírios no pântano.

Postado por Cristiana Soares em
BlogTalk, Conversas sobre comportamento, costumes, cultura e vida. Puxe a cadeira.

2007-06-11 19:09:52