Dona Maria Eudóxia e o PAN 2007

Dia desses encontrei com dona Maria Eudóxia, na fila da caixa do supermercado Zona Sul. Dona Eudóxia é uma católica fervorosa, carola assumida, e não perde a missa das 7h00 na Igreja de São Paulo Apóstolo. Mora num ótimo apartamento de 4 quartos da rua Leopoldo Miguez, sozinha há um ano, desde que perdeu o seu esposo de muitos anos, vítima de um câncer, que o levou em poucos meses.

Para manter o seu apartamento dona Eudóxia faz das tripas coração. Não é fácil pagar, com a pensão, o condomínio e o IPTU - dos mais altos da cidade -, e ainda sobrar uma grana pros remédios, pra comida e plano de saúde. Mas ela vai levando, cheia de fé.

Ia me dizendo a dona Eudóxia uma coisa que eu não sabia. Dizia ela:

- Seu Luiz, o senhor viu o que fez o nosso alcaide? Tirou os pivetes e as prostitutas da Atlântica. Tudo pro PAN 2007.

- Não notei, não. Que bom, né? Aumenta a segurança.

- Que bom nada... Ele empurrou todo mundo pra Leopoldo Miguez e pra Pompeu Loureiro.

Fiquei surpreso, mas nem tanto. Se a dona Eudóxia estava dizendo é porque devia ser verdade.

Resolvi dar uma volta pelo posto 5, no comecinho da noite, e que surpresa. Prostitutas faziam ponto na rua Pompeu Loureiro entre a Bolívar e a Barão de Ipanema. Cheio de coragem, mas sem levar nada de valor, entrei pela rua Constante Ramos e depois caminhei pela rua Leopoldo Miguez.

E não é que a dona Maria Eudóxia tinha razão? A rua Leopoldo Miguez estava cheia de mendigos, pivetes, moradores de rua em geral e várias rodas de jogatina de cartas, um verdadeiro bingo ao ar livre.

Fiquei triste. Sempre achei que a rua Leopoldo Miguez era uma das ruas mais lindas e arborizadas de Copacabana. É uma pena que caminhar por ela, hoje em dia, dê mais medo do que prazer.

Mas, motivado pela fé de dona Maria Eudóxia, tenho ainda a esperança que o nosso prefeito volte seus olhos para nosso esquecido bairro, com exceção da Avenida Atlântica, e nos ajude a equacionar este problema tão espinhoso.

LOZ - http://iabasse.blogspot.com/

2007-06-11 22:23:23

Olhai os lírios de Copacabana

Imagine o lugar mais decadente do mundo. Eu o chamo de Copacabana. Morei lá dos 19 aos 22 anos. Numa fase emergente da minha vida. Do K11 para a “Princesinha do Mar”. Não estou querendo contar vantagem nem provocar inveja, mas mudar de bairro assim, da noite para o dia, não é pra qualquer um. Graças à minha amiga de colegial, a Luciane. Sim, aquela tricolor doente.

Fizemos o segundo grau em um colégio tradicional em Nova Iguaçu. Lá nos encontramos carteira a carteira. Ficamos muito amigas nem sei como, pois éramos totalmente diferentes uma da outra. Devíamos ter algum talento para conviver com a diversidade. Nunca brigamos na vida. Estudamos três anos juntas e depois moramos mais três e nenhuma briguinha para contar aqui.

Acontecia uma coisa engraçada que só a Física Quântica explica: na horinha exata em que uma abria os olhos de manhã, a outra também abria. Era incrível isso. Nossos relógios biológicos eram totalmente sincronizados. Dizer que ficávamos menstruadas ao mesmo tempo nem precisa.

Prestes a completar 19 anos, meu sonho era morar sozinha. Um dia vem a Luciane dizendo que a mãe dela comprara um apartamento em Copacabana e que eu poderia morar com ela e com o irmão lá. Nos três. SOZINHOS. Sem pai, nem mãe.

Há sonhos que a gente nem precisa sonhar. Esse foi um deles. Aconteceu antes de eu imaginá-lo.

Então fomos para Copacabana, Posto 2, perto da Prado Junior (na época, rua do tráfico e da prostituição), num apartamentinho quarto e sala, onde o quarto era dividido por um armário. Lado das meninas e o outro do menino. Ainda bem que ficávamos do lado onde havia janela. Janela essa que dava para os fundos de outros prédios e pela qual eu gritava, segundo a Luciane me lembrou recentemente: “Quero pãooooo!!”

Eu e a Luciane compartilhávamos um meio de um quarto e sala. Ou seja, eu morava em um quarto de um quarto. O que mais tarde se tornou um terço de um meio de um quarto e sala, quando a Angélica veio morar com a gente. Luciane também me lembrou que um dia eu caí do triliche em cima da nossa amiga.

Sem contar com a Lílian que aparecia do nada. A “mansa”, como a chamávamos. Termo que aprendemos em nossas viagens para Ouro Preto e que significava uma pessoa folgada. Essa era a Lílian Mansa. Esvaziava a geladeira, mas preenchia aquele lar com sua energia positiva.

O apê ficava num primeiro andar, bem em cima de um supermercado, que volta e meia realizava reformas estruturais. Éramos obrigadas a acordar às 7 horas com martelo batendo na orelha. Aquele “cheirinho” básico de supermercado já fazia parte da família.

E, diante de tantas adversidades, eu e a Luciane nunca brigamos.

Nessa época eu estudava na ECO (Escola de Comunicação da UFRJ) e pegava o 121, Copacabana—Central. A vantagem era que eu saltava no segundo ponto logo após o túnel. Ou seja: mal entrara no veículo lotado, já desovava. Um luxo só. Grande vantagem de se morar em Copa.

Outra era a curta distância da nossa casa até a praia. Uma quadra. Sim, umazinha apenas. A desvantagem é que aquele trecho de areia, banhada com água refrescante, era freqüentado por hordas de argentinos. Eles tratavam a gente como “moças fáceis dando mole”. E isso para eles não era redundância. Difícil e dispendioso convencer os cucarachas que éramos moças de família.

Eu e Luciane passávamos batido pelas intempéries. Nos divertíamos, conhecíamos gente nova, Legião Urbana e desfrutávamos o início de nossas vidas. Aquela época maravilhosa e irreversível, quando a vida está começando e a temos todinha para errar.

Acho que por isso eu e Luciane nunca brigávamos. A gente olhava junta para frente. Não tínhamos tempo para picuinhas. E florescemos na decadência como os lírios no pântano.

Postado por Cristiana Soares em
BlogTalk, Conversas sobre comportamento, costumes, cultura e vida. Puxe a cadeira.

2007-06-11 19:09:52

em copacabana tudo é rei

para cada sorriso de criança, adulto, idoso ou canino, em dias onde o trânsito é vedado na faixa á beira mar, isto sim o que torna hoje copacana radiante, existe um chico-esperto travestido na luta pela sobrevivência a alugar ou vender, cadeirinhas, bicicletas, skates. aparelhos de ginásticas, sem falar, claro, já cedo, o próprio corpo. a lista é infindável. de memória é impossível guardar mas tampouco anoto: seja para não dar pinta de turista e aumentar minhas probabilidades de tomar uns safanões em troca da minha bolsa, seja para que alguém queira me vender caneta, envelope e sabe-se lá até remédio para a memória.
santa clara, figueiredo, toneleros, barata ribeiro, zigue-zagueio até a bolivar. e todos os cachorros que encontro nenhum tem o ar alegre d´antes. mal-estar dos apartamentos ou mal-estar da civilização carioca? chico desabafa sobre o infortúnio do que é ser carioca hoje, publicado por ocasião do lançamento do seu novo trabalho musical, que traz uma subúrbio com uma letra que corta a trilhos o caminho da central até depois da pavuna produzindo silvos.
eu que não saio de copacabana, mundinho quando muito expandido que vai, no máximo, as fronteiras do começo do leblon - a barra é apenas viagem de memória - ou aos arremêdos da glória - enquanto me pergunto se vou achar casa talvez em santa teresa ou, golpe de sorte, no bairro do peixoto - tenho a dizer que o subúrbio hoje é mesmo copacabana.
onde calçadão, pedras pretas e brancas estão mais sujas do que nunca, mesmo sem perder a majestade.
vai um polidor ai tio ?

Originalmente posted by celso muniz at 5:21 PM em http://misterwalk.blogspot.com/


2006-11-07 15:42:32

Copacabana e a cultura urbana carioca

Praia de Copacabana, a partir do Posto 6

Certa vez, numa entrevista, me perguntaram que livro eu levaria para uma ilha deserta. Respondi que jamais iria para uma ilha deserta (e nem para uma não tão deserta assim), a menos que fosse condenado a tanto; e como os condenados não têm muitos direitos, provavelmente eu não teria direito de levar livro algum. A pessoa que me entrevistou acabou optando por retirar esta pergunta da entrevista, ou por julgar que eu fora malcriado no meu depoimento ou, pior ainda, por considerar que a minha resposta era absurda, totalmente incompatível com a mentalidade predominante na sociedade contemporânea, que, de uma maneira geral, sonha com uma vida em pacatos paraísos ecológicos, distantes dos grandes centros urbanos. Ou seja, é como se eu houvesse esnobado o senso comum e dado um acintoso tapa na cara dos leitores da publicação onde a entrevista seria veiculada.

Seja como for, é fato que a vida num paraíso ecológico nunca me atraiu. Sou, essencialmente, um ser da cidade grande. Muito do que as pessoas afirmam abominar ou que, veladamente desprezam, me encanta sobremaneira: o movimento de pessoas nas calçadas, o ruído dos carros nas ruas, o comércio efervescente, os edifícios ostentando cada qual o seu estilo arquitetônico, enfim: tudo aquilo que compõe essa coisa maravilhosa chamada vida urbana. Nós brasileiros, somos um povo com muito pouco apreço pelas nossas cidades. Vivemos ainda com uma certa nostalgia romântica de um passado rudimentar, simplório, telúrico, meio selvagem. Para a maioria, morar numa cidade como o Rio de Janeiro ou São Paulo é um verdadeiro castigo. Para mim, ao contrário, é uma benção.

Esses pensamentos, volta e meia, me vêm à mente durante as minhas freqüentes andanças pelas ruas do Rio. O Rio é um lugar peculiar. Aqui, uma natureza tropical exuberante convive lado a lado com uma gigantesca, ruidosa e agitada selva urbana de concreto, vidro e automóveis. É, provavelmente, um dos poucos lugares do mundo onde tais extremos coexistem de maneira tão íntima. E se há um lugar do Rio onde essa simbiose é mais evidente, este lugar é, sem dúvida alguma, Copacabana.


Exemplos da arquitetura de Copacabana

Ultimamente, virou moda falar mal de Copacabana. É como se o bairro encarnasse tudo aquilo que pode haver de mais negativo e degradante numa cidade. Talvez pelo seu caráter fortemente urbano, Copacabana se oponha à idéia do paraíso distante e idílico, quase despovoado, onde pais devotados poderiam, enfim, criar seus filhos com liberdade e contato permanente com a natureza – árvores, micos, passarinhos, borboletas – dentro do conceito paradigmático de “qualidade de vida”. É verdade, reconheço, que o bairro cresceu demais. Reconheço também que muitos dos que reclamam da Copacabana atual, são egressos de décadas pretéritas. São pessoas que conheceram a paradisíaca e sofisticada Copacabana do pós-guerra e dos “anos dourados”, sem trânsito, criminalidade, mendicância e a deterioração das relações sociais (elementos que, é bom frisar, não são privilégios "copacabanenses"). No entanto, todas essas reservas e reclamações escondem, na verdade, uma característica que parece impregnada na alma carioca: a falta (ou a escassez) de cultura urbana.

Dois anos atrás, escrevi aqui no Digestivo Cultural, um artigo no qual falava do desprezo dos cariocas pela arquitetura do Rio. É algo que me incomoda, pois eu estou sempre descobrindo e redescobrindo aspectos belos, interessantíssimos e inusitados nas construções da cidade. Creio, no entanto, que o desprezo dos cariocas não é apenas pela arquitetura e sim pela cidade em si, quando descontextualizada da sua paisagem natural. É como se a cidade, com as suas ruas, avenidas, praças, casas, lojas e edifícios fosse não mais do que um “mal necessário” para se viver dentro de um ambiente minimamente civilizado, já que não dá para morar em árvores e se locomover de cipó. O Rio, sob esse ponto de vista, seria um lugar amado e valorizado pela metade: exalta-se a natureza, o mar, as montanhas, as lagoas, as florestas, etc. enquanto à urbe não são dirigidas mais do que palavras e sinais de menosprezo, desapreço e ojeriza. Caso o Rio não tivesse praias, ou montanhas, não tivesse nenhuma beleza natural, caso fosse apenas cidade, imagino que, muito provavelmente, seria um lugar odiado pelos seus habitantes.

A falta de cultura urbana é visível ao diagnosticarmos a relação que as pessoas têm com o espaço urbano. Tomemos o exemplo de Nova York. O que no Rio é desvalorizado e visto como sintomas de decadência – a forte urbanização, o frenesi das ruas, o dia-a-dia vibrante, as calçadas tomadas de gente, som e movimento – na notável metrópole norte-americana é enaltecido e encarado como parte fundamental e indissociável da alma da cidade. Os novaiorquinos gostam da sua cidade como ela é e participam ativamente da sua vida, desfrutando de tudo o que ela tem a oferecer. Poucas são as pessoas, creio, que vivem em Nova York, sonhando com o dia em que, finalmente, poderão se mudar para uma propriedade bucólica em Vermont, Long Island ou nas praias da Flórida. Em cidades como Paris, Londres e Madri se dá o mesmo. São locais, também, com grande cultura urbana e onde há uma completa integração dos moradores com o meio. Lá, enquanto todos querem viver o mais perto possível dos bairros centrais, aqui ocorre o inverso: as pessoas procuram, cada vez mais, áreas bastante afastadas do Centro para morar. Alguém que resida, por exemplo, no Recreio dos Bandeirantes, um dos novos bairros à beira-mar do Rio, e trabalhe no Centro, gasta no trajeto diário de ida e volta, no mínimo, uma hora; isso, naturalmente, se o trânsito estiver totalmente desimpedido. E é fato que, no horário comercial, ele quase nunca está.

Esquinas de Copacabana


Seria maravilhoso se o povo carioca pudesse curtir a cidade com o mesmo ardor que curte a natureza. Que pudesse andar pelas ruas e contemplar suas calçadas e construções com a mesma alegria de quando vai à praia ou passear nas Paineiras. Muita gente me acha louco (e elas não estão totalmente erradas), mas eu costumo dizer que um dos meus programas favoritos no Rio é andar pela cidade sem rumo, sem nem passar perto da orla. Minhas caminhadas por Copacabana, por exemplo, são sempre memoráveis. Ah, Copacabana! Como eu adoro Copacabana! Durante parte da minha vida, sobretudo na infância e princípio da adolescência eu considerava Copacabana o máximo de pujança e perfeição que uma cidade poderia almejar. Gosto de caminhar sem pressa sob as copas das árvores, apreciando os mosaicos de pedras portuguesas nas calçadas, as lojas, as fachadas dos prédios – muitos dos quais em estilos que vão do neoclássico ao art déco, passando pelos de nítida inspiração modernista –, suas entradas de mármore e portas de ferro forjado. Nasci, cresci e sempre morei em Copacabana e é como se cada esquina do bairro, para mim, tivesse alma própria. Passo pelas ruas e reconheço nelas pedaços da minha história, pedaços de mim que ficaram gravados nas calçadas e nos detalhes dos edifícios. A minha vida confunde-se com esse bairro. À praia não vou há quase vinte anos. Ela não me faz falta. O que me encanta em Copacabana é o seu lado urbano. Aliás, é o que me encanta em todo o Rio de Janeiro.

Isso não me impede, contudo, de enxergar e denunciar os inúmeros problemas que afligem Copacabana e o Rio. A violência, a falta de educação do povo, que maltrata e emporcalha as ruas, o abandono de certas áreas que poderiam receber mais atenção do poder público, a pobreza, o caos no trânsito... Problemas, no entanto, toda grande cidade tem, em maior ou menos grau. A deterioração de certas vias públicas de grande circulação de pessoas e veículos é algo natural e, de certo modo, inevitável numa metrópole. Se a avenida Atlântica de hoje não é a mesma de cinqüenta anos atrás, podemos afirmar o mesmo da avenue des Champs Elysées, que, segundo os próprios parisienses com os quais conversei, não é hoje mais do que uma sombra de um passado esplendoroso. A vida na cidade grande tem dessas coisas e quem, realmente, gosta de viver em uma, tem de aceitar certas contingências. O que muitos cariocas precisam é aprender a desfrutar o Rio na sua vertente metrópole tanto quanto desfrutam a sua vertente balneário. E Copacabana, uma vez sendo a síntese de ambas, tem muito a ensinar. Amar o bairro, aceitar seus defeitos e reconhecer suas inúmeras qualidades já seria um ótimo primeiro passo em direção a uma cultura urbana da qual o Rio, uma das maiores e mais vibrantes cidades do mundo, não pode prescindir.

Post Scriptum
Escrevi esse artigo embalado por músicas como "Copacabana", de Braguinha e Alberto Ribeiro, na voz de Dick Farney ("...Copacabana, princesinha do mar, Pelas manhãs tu és a vida a cantar..."), "Superbacana", de Caetano Veloso ("...O mundo em Copacabana, Tudo em Copacabana, Copacabana..."), "Copacabana", de Barry Manilow ("...At the Copa, Copacabana, Music and passion were always the fashion...") e "Mar de Copacabana", de Gilberto Gil ("...Muita gente quer Copacabana, Talvez leve uma semana pra chegar..."). Também ouvi "Do Leme ao Pontal", de Tim Maia ("...Do Leme ao Pontal, Não há nada igual..."). Afinal de contas, para se ir do Leme ao Pontal pela orla marítima, há que passar por Copacabana.


Luis Eduardo Matta

Rio de Janeiro, 13/6/2006
DigestivoCultural.com/

2006-09-21 16:32:00

Tathy conta sua estória ...

Olá moro em brasilia mas sempre vou ao rio. bem... não sei se vocês estarão ainda curiosos em saber da minha história depois que eu falar que sou uma garota de programa e, a minha história foi nessa avenida atlântica. tudo começou quando eu estava sentada em um restaurante e minha amiga disse que tinha alguem querendo sair com nós duas. pedí a conta... o último dinheiro que eu tinha naquela noite. paguei e saimos. não sei porque o gringo desistiu, fiquei brava... discuti com ela e falei que ela não servia nem pra arrumar um programa, emfim. voltamos para o restaurante, sem dinheiro, sentamos... e falei para minha amiga: vou pedir algo para beber e estou sem dinheiro, deus está comigo, pensei. ela foi dar uma volta e eu fiquei lá sozinha, quando um homem de 1,90 chegou a minha mesa e pendiu para sentar. foi uma loucura porque eu não sei nada de inglês e ele nem um pouco da lingua portuguesa. mas, nesta vida eu aprendi uma coisa: o que eles querem é universal e o que eu tenho que aprender é o básico: seu nome, meu nome, quanto e onde. o mais importante nós sabemos e nem precisamos de interprete. resolvemos, enfim, sair. ele pagou a conta e
saimos, levei,claro a minha amiga, coitada. ufa! estava sem dinheiro para pagar a conta. lembra? passamos a noite toda com ele. foi bom e ele pagou bem. bom... já passou sete meses e ele ainda se corresponde comigo. passei por momentos difícil e ele mim ajudou, não com dinheiro, mas com palavras de incentivo e garra. tem horas que uma palavra amiga é melhor que, qualquer dinheiro. e hoje sei que atraves da atlântica fiz uma amizade bonita. gente muito boa.

Depois conto mais...

Bjs Tathy

2006-09-01 19:27:28

Flanelinha

Voltando da pelada de quarta à noite na praia, ali na altura da Figueiredo Magalhães, tenta tirar toda a areia do corpo. Inútil, quando justamente é nas suas costas onde ficou mais sujo. Pensa que pouco importa, no sábado vai levar o carro para lavar mesmo, passa o aspirador portátil quando chegar em casa só para poder ir trabalhar amanhã sem cheiro de areia no corpo.
pedras
Caminha em direção ao carro, parado perto da Santa Clara, quase em frente aquele restaurante de turista que atende mal mas vem com pratos bem fartos, ideal para se dividir com mais dois, coisa que quase não acontece com ele, normalmente está sozinho ou só com os amigos que só fazem beber. Então voltava para o carro, ia já enfiando a chave na porta quando o guardador surge do nada cobrando a estadia. Era manco, usava muletas e tinha o rosto cansado mais da vida que da própria idade. Esperto que só cobrava aquilo que o pobre incauto já havia pago.
- O café! O café! Tomei conta aí.
- Amigo, vai me desculpar mas tu vai ter que cobrar do teu parceiro aí mais cedo.
- Dá uma força aí, chefia?
- Fala com teu parceiro, já acertei mais cedo.
- Pô, aí enfraquece...
- Comer minha mãe todo mundo quer, dar pro meu pai nem fodendo!
E sai calmamente sem remorso por não ter alimentado a mendigagem alheia, mesmo de um pobre mas esperto manco.

2006-03-16 02:50:00

uma voltinha

praia


E resolveu dar uma volta no calçadão para arejar as idéias, pensar na vida ou simplesmente esvaziar a mente e ser testemunha da vida alheia pela rua. Percebeu que fazia muito tempo em que nem colocava o pé na areia da praia, mas quando voltava dessas caminhadas para casa tinha sempre um pouco de areia nos chinelos e o rosto meio salgado da maresia. Já lhe basta para lembrar que precisa além de um bom banho fazer mais caminhadas assim para melhorar seu humor e se distrair mais do que ficar igual um psicótico preso dentro do apartamento estreito onde tenta todos os dias escrever sobre o bairro onde mora.

Lula e Copacabana

Depois que levou seis vaias sucessivas da população carioca em julho de 2007, no Maracanã, por ocasião da abertura dos Jogos Pan-Americanos, o mandatário Lula sempre que pode arranja uma laminha para propagar obras nos morros do Rio de Janeiro. Amparado nos cálculos estratégicos do setor de marketing, o presidente-operário pretende com tal atitude, ainda que limitada, confrontar ou quebrar a resistência da classe média carioca hostil aos desmandos do seu governo, que se acumula, de resto, a cada novo escândalo.

No início deste mês, anunciando obras de urbanização que integram o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) - que a oposição chama, acidamente, de Plano de Aceleração da Corrupção -, Lula, guarnecido por milhares de seguranças no Complexo do Alemão, improvisou as seguintes palavras: “Quero contribuir para mudar a imagem do Rio de Janeiro, contribuir para quando um pobre, seja branco ou negro, dos morros do Rio descer para ir à Praia de Copacabana, não inventem que ele está fazendo arrastão, não inventem que ele é bandido. Ele é um homem que tem direito de tomar banho na Praia de Copacabana e em qualquer praia”.

Vamos aos fatos. Em 1992, depois bater as calçadas do mundo em busca de cenário adequado para escrever um romance sobre a miscigenação racial, que mais tarde viria se chamar “Brazil” (Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1994), o escritor norte-americano John Updike escolheu a praia de Copacabana como posto de observação. Sua idéia era laborar uma narrativa sobre a busca da felicidade, inspirado na lenda medieval de Tristão e Isolda, um jovem casal que se encontra de forma inusitada e se apaixona em meio aos obstáculos políticos e sociais os mais diversos.

Assim, hospedado no Copacabana Palace, depois de muito ziguezaguear pelas areias, ladeiras, ruas e botecos do bairro, o prestigiado escritor anotou: “Basta de procurar. É neste cenário que vou situar a narrativa do meu Tristão negro e pobre e da minha Isolda branca e rica. Convive-se aqui com a maior democracia racial do mundo e ela representa o pano de fundo perfeito para o que pretendo escrever”.

Bem, não sou nenhum John Updike, mas tenho consciência desta verdade elementar desde março de 1963, quando, pela primeira vez, me instalei em Copacabana, considerada então como a “Princesinha de Mar”. Já naqueles tempos o bairro era um amálgama de raças e classes sociais, pretos e brancos, ricos e pobres, velhos e crianças, todos reunidos em seus 7,84 km2, se amando uns e se detestando outros, capazes dos gestos mais sublimes e dos atos mais sórdidos – como é próprio da raça humana, em qualquer tempo ou lugar.

No histórico, depois da transferência da capital federal para Brasília, principal centro de escândalos e malandragens que acodem o país, Copacabana perdeu sua majestade. Desapareceram lentamente as boates, os restaurantes de luxo e os magazines sofisticados. O bairro tornou-se o paraíso da comida a quilo (no que se diz precursor), do comércio pirata, dos passadores de droga, dos botequins “pés-sujos”, mantendo firme a velha tradição do trottoir dos travestis e das prostitutas – embora a “Help”, cartão postal da prostituição internacional, tenha os seus dias contados.

Pelos dados estatísticos, transitam diariamente por Copacabana em torno de 300 mil pessoas, muitas delas acomodadas na maior oferta de quartos de hotéis da cidade. Com pouso fixo nos seus 100 quarteirões convivem – bem ou mal – aproximadamente 172 mil pessoas, uns ocupando decadentes apartamentos de “luxo”, outros se acotovelando em quitinetes tipo cabeça-de-porco, boa parte (25% delas) morando nos barracos de sólida alvenaria do complexo integrado do Cantagalo, Pavão e Pavãozinho e do entorno dos morros da Babilônia, Cabritos e Chapéu Mangueira – onde Benedita da Silva, a estrela carioca do PT e ex-governadora do Rio, construiu mansão de alto luxo.

Entre os habitantes do bairro, os pardos e pretos formam 58% população. Os demais moradores, 42% restantes, são constituídos de brancos, branquelos, índios e amarelos. O escoadouro natural de toda essa gente é a larga faixa de areia entre o mar (quase sempre poluído) e o paredão de prédios da Avenida Atlântica, numa extensão de praia que liga o Forte às Pedras do Leme.

É ali que, nos dias úteis ou feriados, além de irem à igreja, trabalhar e estudar, milhares e milhares de pessoas se aglomeram, caminham no calçadão, dormem ao relento, tomam banho de sol e mar, batucam, cantam, dançam, bebem caipirinha e cerveja em lata, pedem esmolas, assistem mega-espetáculos de rock, jogam conversa fora e alguns, mais atrevidos, cafungam o pó da coca e puxam a erva do diabo. No Posto 4, por exemplo, quarteirão do nobre Copacabana Palace, é mais fácil se contar a presença de cem negros pobres do que a de um só branco rico.

E é fato comprovado: quando a “rapaziada está na pior”, desce das gaiolas (dos morros ou asfalto) e partem para o arrastão e o assalto à mão armada, às vezes fatal - para o desespero da população em geral e dos turistas em particular. Foi a isso que Updike, bom observador, chamou de “a maior democracia racial do mundo”.

Bem, já fiz um filme sobre o morro do Cantagalo e sua população humilde (“Pedro Mico”) e moro em Copacabana há duas décadas. Diante da promiscuidade diária do bairro, a pergunta que me faço e a seguinte: onde diabo Lula foi buscar preconceito social ou de raça em Copacabana, salvo caso isolado? Qual foi o idiota que colocou na sua boca tais tolices demagógicas? De fato, o que se procura com tais palavras é justamente criar o preconceito do pobre contra o rico, do preto contra o branco e do jovem contra o velho. Sem dúvida, a postura é típica do marxismo déranger, fomentado para açular a luta de classe e, depois, estabelecer o império do socialismo populista e explorador das massas.

O que é uma pena, pois Copacabana, ainda que decadente, é um bom exemplo de democracia racial.

por Ipojuca Pontes em 24 de março de 2008 em MidiaSemMascara.org
O autor é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.

© 2008 MidiaSemMascara.org

2008-04-02 16:10:14

Drummond, meu cúmplice

São umas sete e quarenta e cinco da manhã, aqueles preciosos quinze minutos antes das oito que a gente ainda se dá ao direito de cochilar antes de enfrentar o dia. É uma ilusão acreditar que quinze minutos podem fazer alguma diferença para a vida da gente. Na verdade fazem, é o que separa o momento em que um piano cai na sua cabeça ou um carro pode te atropelar, basta parar no meio do caminho e se distrair com algo para que a diferença faça... diferença. Levanto correndo, visto uma bermuda e cato minhas tralhas. Dou um beijo nela e meio sonolenta me respode. Às vezes saio para trabalhar direto da casa dela, quando deixo alguma peça de roupa limpa lá, ou quando realmente saio atrasado e acabo me virando com o que tem à mão. Na maior parte das vezes acabo saindo tarde tanto da casa dela quanto da minha. A distância não é grande, mas as distrações são diversas. Desviar de bosta de cachoro, manchete na banca de jornal, papo com o paraíba da lanchonete, um olá para o Salvador (da banca de jornal), uma bunda (ou duas), comprar leite, esquinas e uma obra no meio, idosos no caminho ocupando a calçada, mendigo, um puto na bicicleta te corta ou quase te atropela, pedras, sinal, carros, ônibus e finalmente o porteiro. Chegar em casa coincide com uma besta vontade de ir ao banheiro. Vontade que dá já no meio do caminho, mas acabo pensando em outra coisa e esquece a tempo de pegar o elevador, torcendo para não encontrar com nenhum vizinho que atrase o percurso. Acabo saindo de casa sem tomar café, até porque um copo de leite ou suco é todo meu café da manhã, coisa da dieta. O banho fora rápido, tomo frio para não ficar de medo da água logo e já sair sem demora. Normalmente a parte da manhã está quente e uma coisa acaba anulando outra. Já quando se coloca o pé na rua todo o frescor do desodorante e da água fria virou suor. Não cheira mal, mas as costas molhadas incomodam, principalmente quando levo a mochila. Volta e meia procuro passar perto destas lojas com ar condicionado ou ventilador que escapa pela porta, um alívio curto mas que em quantidade acaba surtindo efeito. Dentro do ônibus não é diferente. Janela, sempre na janela. Não adianta muito também, o vento que vem da rua é sempre quente. O ponto onde vou descer é longe do trabalho, antes era mais perto, mas também era em outro bairro, pegava o metrô e não tinha metade do aborrecimento que tenho hoje. Uma distância que se faria em menos de dez minutos se transforma em trinta, ou mais, dependendo da hora em que saio ou da paciência dos cariocas em seus carros. Uma moto, isto resolveria minha vida e ainda por cima traria muitas alegrias. Desce do ônibus e já começa a se distrair de novo. Mais bancas de jornal, carros, bundas, algumas motos, ruas, procura sombra que o sol já está mais quente, não tem lojas apenas o correio e não tem mesmo, pára em uma loja de conveniência do posto de gasolina - que tem ar condicionado - compra um suco de caixinha ou então uma coca light, a última faz mais efeito e a primeira realmente alimenta. Tenta mais um banca de jornal, normalmente dou sorte porque sempre chega em uma banca e não em outra. Apenas dia sim dia não, porque não sou um cachorro que não pode ver poste que quer regar. É quase. E finalmente dou de cara com o portão do casa, sim, meu trabalho é em uma casa, bairro residencial. Aperta o interfone e consegue respirar, porque para variar, tem uma ladeira no caminho - não é muito íngreme, mas depois de algumas bons quarteirões até meio fio cansa. Primeira satisfação: ar condicionado, vento gelado no suor é algo indescritível, quase sexual. Segunda satisfação: às vezes chego na minha sala e não tem ninguém, isso dá uma falsa impressão de que cheguei cedo, acabo também escapando de alguma reunião ou problema psicológico alheio. Terceira satisfação: chegar depois das 10 faz a manhã passar rápido, até você finalmente fazer algo produtivo já é hora do almoço, mais um motivo para postergar para a parte da tardem por mais importante que seja, ou sacar o telefone e ligar para o fast food mais próximo que tiver, torcer para que este dia não seja mais uma daquelas viradas em que você vivia tendo. O dia passa e tudo o que você pensa é naquela cama macia com meu amor deitada, o gato no pé, o ventilador/ar condicionado ligado, um filme talvez e que o dia seguinte seja sábado, porque segunda feira é definitivamente o pior dia da semana.
Sim, de repente eu gosto mesmo de reclamar da vida. Ainda bem que moro em Copacabana, qualquer coisa vou pro calçadão e peço uma cerveja ao lado de Drummond.

2006-07-25 14:48:02

Em 1996 eu tinha muitas expectativas...

Era aquilo: muito novo e ninguém sabia direito como fazer prá ganhar dinheiro com a internet. Ah, tinham os artistas na arte de vender vento engarrafado, vimos muito vaporware sendo oferecido no mercado.

Minha idéia era muito simples: em qualquer cidade do mundo existe ao menos um inferninho chamado Copacabana! Esse era um nome de reconhecimento mundial e tinha uma história fortíssima prá ser contada, aliás uma não, milhares, milhões de estórias de todas as pessoas que já estiveram em Copacabana alguma vez nas suas vidas.

Desde o início usei sempre material da internet no site, colecionei, recebí muita colaboração de pessoas que mandavam fotos e o acervo foi crescendo, por exemplo a galeria de fotos hoje tem mais de 600 imagens diferentes e tenho mais de 500 novas prá incluir! A parte da histórias das ruas eu contarei qualquer hora dessas...

Mas logo que eu coloquei o site no ar começaram as visitas, no mesmo dia, foi incrível e, junto com as visitas, mensagens de pessoas interessadas em colaborar. Eu sabia que o site seria o centro mundial de informações sobre Copacabana e sempre me esforcei prá acrescentar o máximo de conteúdo sobre Copacabana.

A primeira página do site eu fiz em... talvez... uns... 10 minutos! Usei um bloco de notas (notepad.exe) um programinha de edição de imagens chamado Photofinish e um navegador Spry Mosaic, pro FTP o sensacional WS-FTP.

Era o logo (levei menos de dois minutos prá fazer) e duas imagens, eu mesmo não lembro muito bem como era, mas tem no arquivo da internet uma das primeiras versões prá você conferir e comparar!

2006-07-19 16:03:27