A história de Copacabana, Rio de Janeiro, Brasil

Se os primeiros anos foram agitados, os anos 1950 em Copacabana trouxeram novidades como a bossa-nova e o rock'n roll!

E nos anos seguintes Copacabana seguiu criando moda, revolucionando os costumes e se consolidando como o principal destino do turismo no Brasil!

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Praia de Copacabana 1967

Avenida Atlântica anos 1970

Copacabana é o bairro mais conhecido
do Rio de Janeiro,
do Brasil,
do mundo!

Copacabana anos 1930

Os primeiros ônibus começam a circular em Copacabana no ano de 1931. 

A foto nos mostra uma vista panorâmica de uma Copacabana pré arranha-céu apesar de já se avistarem alguns prédios mais altos.

A implantação dos arranha-céus em Copacabana dividiu as opiniões dos moradores: para uns, os edifícios não passavam de casas de cômodos e pareciam verdadeiros caixões, para outros, eram uma onda de civilização. De qualquer forma, a quantidade de edificações como esta, era ainda pouco expressiva. Os prédios mais altos localizavam-se na Avenida Atlântica, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana e no Lido - os lugares que possuíam maior largura.

Em 1933, já havia 70 edifícios de apartamentos, sendo 7 com mais de 10 andares e 63 com mais de 4. 

Apesar de ainda existirem muitas casas, o surgimento dos pequenos e grandes prédios foi mudando rapidamente a fisionomia das ruas do bairro.

Copacabana teve a sua paisagem marcada pelas construções em estilo art-decó, com a simplicidade das linhas retas, as janelas inspiradas em vigias de navio e guarda-corpos de ferro arredondado. Foi neste bairro que este estilo se mostrou de forma mais expressiva. Até hoje, podemos identificá-lo em alguns prédios: nos vastos halls, nos detalhes em ferro e vidro das portas, nos letreiros e luminárias, nos relevos sutis do concreto das fachadas, nas saliências e reentrâncias...

Praça do Lido anos 1950

A criatividade e as características desse estilo são marcantes. A grande flexibilidade da planta dos apartamentos possibilitava uma circulação interna tranquila por todos os cômodos. O uso externo de revestimentos nobres, formando uma barra de proteção, resguardava as paredes em contato com a rua. As varandas e balcões com parapeitos de alvenaria, total ou parcialmente embutidos no corpo da edificação, se destacavam. A boa qualidade dos materiais de construção utilizados e o uso de formas arredondadas, principalmente nos prédios de esquina, permitiram uma ótima conservação.

O Copacabana Palace Hotel , com seu cassino , alçou à fama e à internacionalização do bairro.

Em 1936, Noel Rosa cantava, em Tarzan, o filho do alfaiate:

eu poso pros fotógrafos/
e distribuo autógrafos/
a todas as pequenas lá da praia de manhã./
Um argentino disse, me vendo em Copacabana:/
no hay fuerza sobre-humana/ que detenga este Tarzan!

As varandas e as janelas de uma Copacabana dos anos 1950

Havia outro cassino no bairro , inaugurado dois anos antes, o Atlântico , edificado onde antes era o Mère Louise (no futuro, estariam ali a TV Rio. Os cassinos atraíam personalidades do mundo todo até o dia 30 de abril de 1946, quando o presidente Eurico Gaspar Dutra baniu o jogo do país. O Copacabana Palace Hotel teve a glória de hospedar reis, imperadores, príncipes, presidentes do Brasil e de vários países, marajás da Índia, intelectuais, cientistas, artistas de todo o mundo e figuras respeitadas das mais diversas categorias.

Revista da Light com a praia de Copacabana na capa

Começam a circular em Copacabana os ônibus da Light, em 1931. Por essa época, nos seus arranha-céus já existiam apartamentos de aluguel por temporada, destinados a estrangeiros e turistas que vinham ao Rio de Janeiro passar o verão na praia. O edifício Palácio Império, na revista  O Cruzeiro, anunciava apartamentos mobiliados, restaurante e garagem. Em 1938, na administração do prefeito Henrique Dodsworth, são concluídos os trabalhos de corte do morro do Cantagalo, ligando Copacabana à Lagoa Rodrigo de Freitas.

A década de 40 viu Copacabana se firmar como bairro chique e sua vida noturna é dividida entre seus dois cassinos, o Copacabana, que pertencia ao Copacabana Palace Hotel , e o Cassino Atlântico , na Avenida Atlântica , esquina com a Rua Francisco Otaviano .

Prova da importância do bairro, na Academia Brasileira de Letras de Janeiro de 1946 haviam vários Imortais morando em Copacabana

Secretário Geral
20 - Múcio Leao, Rua Fernando Mendes, 7, apt. 122 47-3717

2o. secretário
4 - Viana Moog, Rua Tonelero, 200 26-8564

Bibliotecário
39 - Rodolfo Garcia, Rua República do Peru, 380 27-6083

Acadêmicos

11 - Adelmar Tavares, Rua Raimundo Correia, 70 27-3661
38 - Celso Vieira, Rua Gustavo Sampaio, 124, apto. 903 27-6133
19 - Gustavo Barroso, Rua Sá Ferreira, 123 27-2895
27 - Levi Carneiro, Rua Gustavo Sampaio, 92 27-4871
21 - Olegário Mariano, Rua Pompeu Loureiro, 36 27-0639
16 - Pedro Calmom, Rua Santa Clara, 415 26-0222

Porém, logo depois de empossado, em 30 de abril de 1946, o presidente Eurico Dutra, em decreto, proíbe o jogo no Brasil. O Cassino Atlântico logo fechou as portas, por não ter um hotel de sustentação, como era o caso do Copacabana Palace Hotel, que transformou o espaço para shows e outras atividades turísticas. E assim surge a nova boêmia em Copacabana, onde o seu templo maior (embora de curta duração e final trágico) foi a boate Vogue.

Nessa época a vida noturna da cidade transfere-se definitivamente para Copacabana e o comércio varejista tinha 793 estabelecimentos, enquanto a população do bairro chegava perto dos 75.000 habitantes.

Copacabana anos 1940

 Copacabana, a Princesinha do Mar, foi eternizada em música de João de Barro, o Braguinha, e Alberto Ribeiro e gravada em 1946, por Dick Farney, tornando-se conhecida no mundo todo, com centenas de gravações. Os versos são:

Existem praias tão lindas

cheias de luz,
nenhuma tem os encantos
que tu possuis.


Tuas areias, teu céu tão lindo,
tuas sereias sempre sorrindo:


Copacabana,
princesinha do mar,
pelas manhãs tu és a vida a cantar
e à tardinha ao sol poente
deixas sempre uma saudade na gente.


Copacabana,
o mar, eterno cantor,
ao te beijar ficou perdido de amor
e hoje vive a murmurar
só a ti Copacabana
eu hei de amar!

Naturalmente, com toda essa nobreza e afluência, duas grandes favelas já estavam nas encostas dos seus morros, desde a década anterior: a do Cantagalo e a da Babilônia.

O bairro crescia, construções de casas e edifícios eram levantadas e de ruas abertas em direção do mar.

Nas areias de Copacabana praticava-se todos os tipos de esportes: jogava-se pelada, peteca e o futebol de areia que deu origem a diversos clubes.

Esporte na praia de Copacabana

Começam a se formar turmas de jovens no bairro que elegem esquinas e praças para as reuniões, onde criavam e mantinham as festas do carnaval e juninas. O ponto mais famoso dessas reuniões era o da Rua Miguel Lemos.

O sistema de moradia em apartamentos levou à formação de grupos de jovens que moravam na mesma rua.

As várias esquinas, até hoje, têm seus turmas de jovens. Nos anos 50 a mais famosa delas foi a da Rua Miguel Lemos, onde um líder se destacou, Cristiano Lacorte , que de sua cadeira de rodas movimentava o grupo, comparecendo a todos os eventos de Copacabana. No quarteirão eram - ainda hoje são - organizadas festas referentes a diversas comemorações do ano. No Carnaval crianças e adultos brincavam e continuam brincando na calçada, ao som de músicos especialmente contratados para os três dias de festas. Esses grupos se espalharam pelas ruas e não há Copa do Mundo de Futebol que não tenha as ruas decoradas por eles. Nas festas juninas são montados verdadeiros arraiás para a diversão dos moradores.

Lançaram e lançam modismos na música, nos esportes e na maneira de ser, como: o uso da lambreta, do blue jeans, o rock’n roll, esportes e a freqüência maciça aos cursos de línguas estrangeiras (na década de 90, cursos de informática).

Copacabana tinha muitas livrarias e dava atenção especial aos programas teatrais e cinematográficos, tornando-se o bairro pioneiro no surgimento de cineclubes, concertos musicais e a ter platéia para as jam sessions, sempre com muito sucesso. Sem dúvida, foi um modo de fazer com que vivendo na vertical os jovens desenvolvessem uma convicção de equilíbrio nas diferenças de classes sociais.

A década de 50 marcaria Copacabana com três acontecimentos importantes: o atentado a Carlos Lacerda, em 5 de julho de 1954a morte de Aída Cury, em 14 de julho de 1958; o nascimento da Bossa Nova, em 1958 com a gravação do disco Canção do amor demais por Elizete Cardoso.

O jornal O Globo noticiava em 29 de janeiro de 1954

"Desde 1935, quando foi inaugurado o Cassino Atlântico, o Posto Seis, em Copacabana, tem sido um dos pontos de maior animação carnavalesca da capital da República. Atualmente, transformado em sede da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), o edifício da esquina da Avenida Atlântica com a Rua Francisco Otaviano continua mantendo a tradição de baluarte da alegria carnavalesca. Há duas semanas vêm realizando em sua boate  os movimentados bailes "Sassaricadas" (das 14h às 20h), os quais terão prosseguimento, todos os sábados, até o carnaval."

Batalha de confete no Mocambo ano 1954

Carlos Lacerda  era deputado federal, em 1954, no Distrito Federal, cuja capital era o Rio de Janeiro.

O jornal O Globo noticiava em 24 de março de 1954

"Lacerda e filho de Aranha trocam socos

Principiando por uma altercação seguida de luta corporal entre o Sr. Euclides Aranha e o jornalista Carlos Lacerda, um incidente que se prolongaria até a meia-noite, resultando, inclusive, em congestionamento do tráfego da Avenida Atlântica e interdição do local por autoridades policiais, perturbou na noite de ontem o jantar no Bife de Ouro, o restaurante do Copacabana Palace Hotel . Achavam-se reunidos na mesma mesa o ministro João Cleophas, o deputado Edilberto Ribeiro, o Sr. Manuel Ferreira e Carlos Lacerda, diretor da "Tribuna da Imprensa", num jantar promovido pelo deputado. De outra mesa, o Sr. Euclides Aranha, filho do ministro Oswaldo Aranha, jantava com a esposa, levantou-se, fisionomia transtornada, dirigiu-se à mesa onde se encontrava o referido grupo, deteve-se junto à cadeira do jornalista e interpelou-o sobre ataques dirigidos a seu pai na "Tribuna da Imprensa". À interpelação seguiu-se áspera troca de palavras, tendo o jornalista se levantado, entrando em luta com o filho do ministro da Fazenda. Segundo as testemunhas, os dois trocaram socos por algum tempo, até que amigos comuns se interpuseram e os separaram. Às 23h, o próprio ministro Oswaldo Aranha compareceu ao restaurante para ver o que ocorrera. Pouco depois, simultâneamente, por portas diferentes, os Srs. Euclides Aranha e Carlos Lacerda abandonaram o Bife de Ouro."

Atentado contra Carlos Lacerda na Rua Tonelero

O presidente do Brasil era Getúlio Vargas, eleito em 1950, de cujo governo Lacerda fazia oposição permanente. Depois de várias crises contra o governo de Getúlio Vargas, sempre muito atacado por Lacerda, este sofreu um atentado, na Rua Tonelero , em Copacabana, onde morava, por elementos da guarda pessoal do presidente. Lacerda foi atingido no pé, mas seu amigo major Rubem Vaz , da Aeronáutica, de quem se despedia na calçada do edifício Albervânia, foi atingido mortalmente.

Desse episódio, desencadeou-se enorme desgaste para Getúlio Vargas, culminando com seu suicídio, em 24 de agosto de 1954. Foi uma comoção nacional. 

Morre Vargas

O jornal O Globo noticiava em 19 de maio de 1954

"As mazelas de Copacabana

Copacabana, que com sua maravilhosa praia, hoje célebre em todo o mundo, e a beleza alpestre dos seus limites do lado oposto do mar, bem podia ser um recanto do paraíso, há muito está, deploravelmente, convertida num verdadeiro inferno. Começa por ser um bairro de densidade demográfica já excessiva, que conta apenas com duas vias de acesso. Mas, afinal, isto, apesar dos seus tremendos inconvenientes, não é o pior. Há a falta d'água, as ruas esburacadas, as calçadas impedidas por montes de material de construção e até por muros inconcebíveis, como, por exemplo, aqueles que se vêem na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, entre as Ruas Fernando Mendes e Rodolfo Dantas. Diz-se-ia que os citados muros se erguem absurdamente, incrivelmente, ali, barrando a calçada, para mostrar a quantos passam pela movimentadíssima avenida que tudo é possível em Copacabana.

Avenida Atlântica anos 1950

Tudo é, realmente, possível em Copacabana, tudo quanto é mazela. Talvez por isso, as autoridades municipais estejam despreocupadamente deixando que a praia mais famosa das Américas venha sendo transformada no mais imundo dos vazadouros. Causa engulhos o que se vê, ou, com mais exatidão e não menor repugnância, o que se pisa ali. Aquelas areias prateadas e magnificamente esplendentes ao sol estão pontilhadas do que há de mais nauseabundo. É que a praia de Copacabana passou agora a ser residência desimpedida de um dos maiores contingentes de vagabundos ainda concentrados nesta capital. Ali eles comem, ali eles dormem, ali eles fazem o que querem ou a natureza lhes dita, sem que apareça qualquer agente da autoridade para dizer-lhes que já é tempo de começar a sofrer alguma restrição a desmedida liberdade de que têm tão farta e repugnantemente abusado."

Avenida Atlântica anos 1950

Em janeiro de 1958, Rubem Braga, cronista conceituado, escrevera Ai de ti Copacabana, crônica na qual como um profeta do apocalipse, lamentava:

Já movi o mar de uma parte e de outra parte,
e suas ondas tomaram o Leme e o Arpoador, e tu não viste este sinal;
estás perdida e cega no meio de tuas iniqüidades e de tua malícia.

A Bossa Nova nasceu na Avenida Atlântica , na casa de Nara Leão, onde a partir de 1956, jovens da classe média, como: Roberto Menescal, Ronaldo Boscoli, Carlinhos Lyra e outros, em torno de cervejas e sanduíches se reuniam para cantar.

A bossa nova nasceu na casa de Nara Leão, na Avenida Atlântica

Porém o fato que marcou o aparecimento da Bossa Nova foi o disco gravado por Elizete Cardoso, em 1958, Canção do amor demais, cujo acompanhamento era feito pelo violonista João Gilberto, com uma nova forma rítmica, uma batida diferente, logo batizada de Bossa NovaJoão Gilberto tornou-se depois cantor e o papa da Bossa Nova, reconhecido no mundo inteiro.

Em 1955, foi inaugurado pelo empresário Augusto Frederico Schmidt  o primeiro supermercado com auto-serviço, o Disco (atual Pão de Acúcar), na Rua Siqueira Campos 

Nesse mesmo ano, um incêndio determinava o fechamento de um dos mais famosos  hotéis de Copacabana, o Vogue, na Avenida Princesa Isabelcuja boate Vogue era frequentada pela alta sociedade carioca.

Dois anos depois o Rock and Roll é lançado no Brasil, justamente em Copacabana, no Copa Golf onde hoje é o Shopping Cassino Atlântico . Do Leme ao Posto SeisCopacabana torna-se definitivamente centro de lazer da cidade. 

Um grande incêndio determinou o fechamento do Hotel Vogue

 Havia 06 cinemas, o Bob's, a varanda do Hotel Miramar, a Colombo, a piscina do Copacabana Palace, as missas do Padre Barbosa, a Americana, o Bar do Frederico (no andar térreo da boate Fred’s) e o Scaramouche (em frente ao Bob's). O roteiro da noite incluía 36 restaurantes, 4 teatros, 3 lanchonetes (snack bars), 2 clubes e 20 boates (night clubs).

A boate Fred's na Avenida Princesa Isabel, quase na praia

Depoimentos

"Fui músico da boite Fred´s (baterísta do conjunto do pianista Antonio Guimarães). Não vejo nenhuma referência a esse grupo musical que inaugurou aquela casa de espetáculos. Ary Barroso  passou por lá com o cantor Ernani Filho. Mas um personagem da noite poderia ser mais lembrado, pela sua importância: Pedro das Flôres. Vestido a rigor, ele distribuia flores pelas mesas. Era queridíssimo por todos. Distinto, não cobrava deixando por conta do cavaleiro o receber ou não alguma ajuda em dinheiro." Fernando Mendes de Oliveira

Com o alto padrão econômico da população de Copacabana expandiu-se o transporte individual que dividia, com dificuldade, o espaço de acesso ao bairro, com ônibus e bondes. O desenvolvimento da indústria automobilística, recém criada no Brasil, fez com que a construção de prédios com garagens e estacionamento. As famílias de classe média cuja aspiração era atingir um status convencionado pela sociedade de então, procurava morar em Copacabana, mesmo que fosse em pequenos apartamentos.

Sempre havia um mocinho bonito que fazia musculação, mostrando os músculos ao usar camiseta apertada e era a imagem do jovem pobre, que procurava uma vida melhor, morando ou frequentando o bairro.

Essa imagem foi captada por Billy Blanco em samba gravado por Doris Monteiro, lançado em 1957, Mocinho Bonito:

Mocinho bonito,

perfeito improviso de falso granfino,
no corpo é atleta, no crânio é menino,
que além do ABC nada mais aprendeu;
queimado de sol,
cabelo assanhado com muito cuidado,
na pinta de conde se esconde um coitado,
um pobre farsante que a sorte esqueceu.


Contando vantagem,
que vive de renda e mora em palácio,
procura esquecer um barraco no Estácio,
lugar de origem que há pouco deixou.
Mocinho bonito,
que é falso malandro de Copacabana,
o mais que consegue é "vintão" por semana,
que a mana "do peito" jamais lhe negou.

Em menos de duas décadas verificou-se a necessidade de abrir novos túneis, dentro do bairro. O primeiro ligava, em 1960, a Rua Barata Ribeiro  à Rua Raul Pompéia , hoje denominado Túnel Sá Freire Alvim . Esse foi um ano de grandes modificações, que visavam a melhoria do trânsito de veículos em Copacabana.

O presidente da República, Juscelino Kubitschek, comemorava o quarto aniversário de seu governo e o Rio de Janeiro deixaria, dali a alguns meses, de ser a capital do país, uma vez que a inauguração de Brasília já estava marcada para 21 de abril.

Veja na edição de 16 de janeiro de 1960 de - O Cruzeiro uma matéria sobre Copacabana na visão do cartunista argentino Divito

No dia 30 de janeiro, após a inauguração da pista de alta velocidade do Aterro do Flamengo, o presidente Kubitschek, juntamente com o prefeito do Distrito Federal, Sá Freire Alvim , inauguravam a duplicação da Avenida Princesa Isabel , possibilitando a ligação do túnel Marques Porto , ou Túnel Novo , com a Avenida Atlântica  por mais de uma pista. Para essa duplicação da pista, foi necessário a implosão de um prédio, a primeira da cidade.

Avenida Princesa Isabel antes da duplicação, no detalhe o prédio que seria implodido

Avenida Princesa Isabel antes da duplicação, no detalhe o prédio que seria implodido

 Após isso a comitiva oficial dirigiu-se para outra inauguração, desta vez do túnel que ligava a Rua Barata Ribeiro  à Rua Raul Pompéia , quando o presidente fez um discurso, lembrando que já fora morador de Copacabana .

Com a mudança do Distrito Federal para Goiás e sua capital para Brasília, o Rio de Janeiro ressentiu-se muito, pois todos os órgãos oficiais, ministérios, Câmara e Senado se transferiram para lá e, por extensão, Copacabana também sentiu os efeitos do impacto sofrido na cidade. Quero ser pobre sem deixar Copacabana, a frase define a paixão pelo bairro, mas Brasília, a nova capital federal, acenava para todos que quisessem crescer com ela. Billy Blanco , compositor de música popular brasileira - por diversas vezes cronista do Rio de Janeiro, nas suas obras musicais -, contrário a esse êxodo, compôs Não vou pra Brasília, samba lançado em 1957, que dizia:

Eu não sou índio nem nada,
não tenho orelha furada
e nem argola
pendurada no nariz.
Não uso tanga de pena
e a minha pele é morena,
do sol da praia, onde nasci
e me criei feliz.

Não vou, não vou pra Brasília,
nem eu, nem minha família,
mesmo que seja
pra ficar cheio da grana.
A vida não se compara,
mesmo difícil e tão cara,
quero ser pobre
sem deixar Copacabana.

Túnel Major Rubem Vaz

Em 1963, outro  túnel  era entregue ao trânsito, cada vez mais pesado, de Copacabana, ligava as ruas Tonelero  e Pompeu Loureiro , que recebeu o nome de Túnel Major Rubem Vaz .

A aspiração de viver em Copacabana, inclusive para as classes sociais menos favorecidas, fez surgir os edifícios com os apartamentos conjugados, de dimensões mínimas, tipo JK, numa alusão às iniciais do presidente Juscelino Kubitschek, mas, na realidade, queria dizer janela e kitchenete. O mais importante bairro da cidade transformara-se numa verdadeira selva de prédios, que se reproduzia de maneira vertiginosa e desordenada. Entre os anos 60 e 70, Copacabana já era um bairro saturado, mesmo assim foram liberados os gabaritos dos prédios para 12 andares, especialmente para hotéis, desaparecendo a visão do contorno das montanhas. 

Gravada em 1968, Superbacana, de Caetano Veloso, expõe sua paixão por Copacabana, de maneira moderna:

Toda essa gente se engana
ou finge que não vê
que nasci pra ser um superbacana,
superbacana, superbacana,
Super-homem, super Flit,
super Vick, Superhist, superbacana.
Estilhaço sobre Copacabana,
tudo em Copacabana, Copacabana.

O mundo explode longe, muito longe,
o Sol responde, o tempo esconde,
o vento espalha e as migalhas
caem todas sobre Copacabana
me engana, esconde o superamendoim,
o espinafre biotônico,
o comando ao avião supersônico,
do parque eletrônico,
do poder atômico, do avanço econômico:
a moeda número um do tio Patinhas
não é minha.


Um batalhão de cow boys
varre a entrada da legião de super-heróis;
eu, superbacana, vou sonhando
até explodir colorido,
no sol dos cinco sentidos,
nada no bolso, ou nas mãos.
Um instante maestro!

Uma Copacabana moderna em 1971

Nos anos 70, no governo Negrão de Lima, foi inaugurada a ampliação da praia e da Avenida Atlântica . Uma nova concepção urbanística dá à praia de Copacabana  uma grande faixa de areia. As calçadas da orla marítima, continuaram com seus desenhos em forma de ondas, mas o canteiro central ganhou belos desenhos geométricos, do arquiteto e urbanista Burle Marx e várias árvores. 

Copacabana, pode não ser o melhor - e é um ponto bastante discutido pelos urbanistas -, mas, para os seus moradores e para o visitante, o bairro é infinitamente lindo e viável.

Parte dos problemas do bairro veio do crescimento do número de automóveis, e para estes, Copacabana é quase inviável, por não ser possível acomodá-los nos estacionamentos e garagens existentes.

Visando a uma melhor solução para os problemas foram se formando as Associações de Amigos e Moradores das seguintes áreas, como: Bairro Peixoto, Praça Cardeal Arcoverde, Leme, Pedra do Inhangá, Postos Quatro, Cinco e Seis e Arpoador.

Avenida Princesa Isabel esquina com Atlântica

Numa iniciativa do Hotel Méridien-Rio , no Réveillon de 1976, que promoveu uma deslumbrante queima de fogos do alto de seu edifício, na Avenida Atlântica  esquina com Avenida Princesa Isabel , fixou-se no calendário da cidade esse evento e institui-se a queima de fogos na praia.

1997 Pela primeira vez o Réveillon de Copacabana é transmitido ao vivo pela internet!

Antes eram promovidos encontros dos adeptos da umbanda e candomblé, cultos de origem africana, que iam jogar flores e presentes, no último dia do ano, nas águas de Copacabana para Iemanjá, para agradecer as bençãos do ano que findava, ou para pedir novas bençãos para o ano que começaria dali a instantes.

No início dos anos 80 o hotel produziu um espetáculo mais abrangente, incluindo um show de raios laser.

A partir daí, a hotelaria e os restaurantes da orla marítima, juntamente com a Prefeitura, aderiram a esse show, tornando Copacabana palco da mais grandiosa festa de réveillon do Rio de Janeiro e da maior queima de fogos simultânea do mundo, registrada no Guinness, o livro de recordes, desde 1990, que a cada ano recebe um público sempre maior, calculado em mais de 2 milhões de pessoas, que vêm de outros bairros, de outros estados, de outros países.

Os primeiros shows pirotécnicos feitos em copacabana foram feitos por Antonio Chieffi Filho e Biagino Chieffi, na época proprietarios da Fogos Caramuru, que também fez a queima dos fogos de artificio da inauguração de Brasilia, hospedados no Copacabana Palace , fizeram um show pirotecnico para a virada do ano dai então começou a tradição.
— Armando Chieffi

Em toda a orla, emergem de pequenos buracos cavados na areia, as luzes das velas circundadas de oferendas e são entoados cânticos por toda a curva atlântica. Os bares e os restaurantes ficam lotados e o calçadão se transforma no ponto nobre da tradicional passagem do ano. Os apartamentos defronte ao mar recebem seus convidados para sofisticadas ceias. É a confraternização pública e gratuita, mais pacífica do mundo, que acontece nos 4km de asfalto e areia, num ritual: olhar para o céu e deixar-se iluminar pelo esplendoroso show de pirotecnia. De uma ponta a outra da praia, do Forte do Leme  ao Forte de Copacabana  explodem os diversos tipos de fogos, durante 15min, culminando com o efeito mágico fa cascata de luzes de 127m, que desce do topo do Hotel Méridien .

Copacabana abriga mais um evento que se fixou no calendário da cidade: a Maratona do Rio, que desde 1984 foi designada pelo Comitê Olímpico Brasileiro como prova seletiva das Olimpíadas de Los Angeles. Com início e final de percurso na praia, os 42.195m tem uma participação anual de 5.000 corredores, em média.

Ainda nesse ano, o prefeito Marcello Alencar, em sua primeira administração, inaugura o Parque da Chacrinha, área verde do bairro, com acesso à reserva de mata atlântica do Morro de São João. Na ocasião foi plantado um espécime raro da flora nativa local, que havia desaparecido com a urbanização do bairro, a Eugenia Copacabanensis  ou araçá da praia.

No ano seguinte, atendendo a uma reivindicação antiga dos moradores do Bairro, o prefeito manda plantar na areia da praia de Copacabana, em vários locais, verdadeiros oásis de coqueiros. Dessa forma são garantidos outros pontos de sombra na praia. 

Ciclovia na praia de Copacabana

Em 1991, a orla marítima ganha uma ciclovia e pedalar vira moda. Nos fins de semana a pista junto à praia - descida dos ônibus e carros que vêm do LeblonIpanema e outros bairros, é fechada para lazer da população, com praticantes de patins, pessoas caminhando e com a belíssima vista do mar.

No ano de seu centenário, 1992, Copacabana vira samba-enredo da Escola de Samba Acadêmicos de Vigário Geral com o tema Cem anos de ondas de Copacabana, sagrando-se campeã do Carnaval.

Apesar do bairro abrigar a maioria dos diretores e donos de jornais, até o surgimento do Copacabana Palace Hotel, seu carnaval apresentava-se de forma incipiente e, no início, essa festa parecia privatizada por seus moradores. Copacabana recebia com cerimônia os foliões que vinham de fora. Durante o ano os moradores frequentavam as luxuosas dependências do Atlântico Club e do Praia Club. Quando o Carnaval chegava, participavam de suas festividades com muito entusiasmo. Em 1932, o governo oficializou o Carnaval e a partir daí Copacabana começa a abrir seus salões para pessoas das camadas sociais mais baixas. Alguns preconceitos são liberados e o bairro passa a ter participação na alegria das ruas.

Bloco desfila no Carnaval 2013 na Praia de Copacabana

Desde o início do século XX já havia os grupos carnavalescos: Sociedade Carnavalesca Prazer do LemePeixinhos do Amor e Flor de Copacabana. Eram comuns, na época, grandes batalhas de confete e lança-perfume, promovidas por moças e rapazes do bairro, na Avenida Atlântica, no trecho entre as Ruas Constante Ramos  e Furquim Werneck (hoje Xavier da Silveira ), ficando nesta principal artéria de Copacabana a manifestação coletiva de carnaval de rua.

O primeiro jornal do bairro, fundado em 1907, O Novo Rio, registrava as festas de carnaval e, mais tarde, viria a ter como colaborador Orestes Barbosa, o inesquecível autor - junto com Sílvio Caldas - de Chão de Estrelas.

Em 1920, surge o jornal Beira Mar, que se destacou de forma decisiva nas reivindicações dos moradores de Copacabana (exemplo: os moradores de Copacabana se uniram para pedir ao então prefeito Antônio Prado Júnior  que desse um jeito nos postos de salvamento. O bairro estava crescendo e, com isso, aumentava o número de afogamentos. No livro "Orla carioca", a historiadora Cláudia Gaspar destaca a notinha publicada na edição do jornal "Beira Mar" de 29 de outubro de 1929: "Não é bastante que tenhamos as praias mais bellas do mundo. Faz-se mistér que as tenhamos aparelhadas de um moderno e perfeito serviço de sauvetage , como Nice, Galveston e outros idênticos paraísos balneários..."! 

E também nascia aquela que seria chamada a força revolucionária da música popular brasileira, Dircinha Batista, que com sua voz interpretou e colaborou com muitos carnavais.

A juventude do bairro gastava suas energias e animação carnavalescas nas ruas e nos clubes que surgiam e inaugurou-se o banho de mar a fantasia. A partir de então,Copacabana começa a sentir o reflexo desses desfiles que crescem de ano para ano, com a participação de pessoas vindas de outros bairros cariocas, com fantasias variadas nos bondes, nos trens, e de papel crepom para os banhos de mar a fantasia.

Havia corsos, batalhas de confete e muita animação. Na década de 50, havia um grupo de rapazes, bem nascidos e bem sucedidos, que se encontrava na Confeitaria Alvear para beber e conversar, surgindo o Grupo dos Cafajestes, que na época de Carnaval dali partiam para os bailes de Copacabana.

O grupo foi fundado e liderado pelo "fanático" botafoguense Edu (Eduardo Henrique Martins de Oliveira), comandante da Panair do Brasil, que foi jogador juvenil do Botafogo no início da década de 1930, com Althemar Dutra de Castilho (futuro presidente do Botafogo), e padrinho de casamento do futebolista Heleno de Freitas, que era outro ‘fanático’ botafoguense membro do ‘Clube dos Cafajestes’.

Além de Edu e de Heleno, os membros do "cafajestes"’ eram, entre outros, Alberto Sued, Baby Pignatari, Bubi Alves (botafoguense), Carlos Niemeyer (piloto da aviação comercial), Carlos Peixoto, Carlos Roberto de Aguiar Moreira (secretário-geral particular do presidente da República), Cassio França, Celmar Padilha, Darcy Froes da Cruz, Ermelindo Matarazzo (milionário que era goleiro reserva e torcedor botafoguense), Ernesto Garcez Filho, Fernando Aguinaga (botafoguense), Francisco Albano Guize, Ibrahim Sued, Ivan Cardoso Senior, Jorginho Guinle, Léo Peteca, Mário Saladini, Mariozinho de Oliveira, Oldair Froes da Cruz, Paulo Andrade Lima, Paulo Soledade (piloto da aviação comercial), Príncipe Dom João de Orleans e Bragança (oficial-reformado da Força Aérea Brasileira), Raimundo Magalhães, Raul Macedo (botafoguense), Sérgio Pettezzoni, Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), Vadinho Dolabella e Waldemar Bombonatti (botafoguense e namorado de Linda Batista).

As "cafajestadas" eram tramadas na Confeitaria Alvear, em Copacabana, na Avenida Atlântica, esquina com a Rua República do Peru, que não raras vezes terminavam com a intervenção da Polícia Especial, na qual se contavam, entre outros, Mário Vianna e Paulo Amaral, que se apresentavam de quepes vermelhos, acelerando as suas Harley Davidson e ilimitadamente dispostos em transformar uma pequena briga em conflito generalizado com os "cafajestes".

Nos bailes importantes, nos pré-carnavalescos, esse grupo era dos mais animados. Criaram os Bailes do Caju Amigo que ficaram famosos e concorridos por muitos anos. Numa dessas festas - conta-nos o jornalista Ibrahim Sued no seu livro 30 Anos de Reportagem -, a atriz de Hollywood, Jane Mansfield, impulsionada pelo caju superamigo, dançou totalmente nua em cima de uma das mesas da boate Au bon gourmet, onde ocorria o baile de carnaval. 

Jane Mansfiled no baile de Carnaval da boate Au Bon Gourmet

Rua Miguel Lemos , tradicional de Copacabana pela união de seus moradores, continuava a estimular o carnaval do bairro, realizando sensacionais bailes pré-carnavalescos e atraindo muitos foliões durante todo o período do rei Momo. Até hoje essa tradição se mantém, ocorrendo também outras comemorações em épocas de Copa do Mundo, festas juninas e datas festivas.

Copacabana Palace Hotel  continuava com a fama internacional de seus bailes, tanto que em 1964, no carnaval do 4º Centenário da Cidade vieram artistas e milionários famosos, como Porfírio e Odile Rubirosa, Brigite Bardot, Alberto Sordi, Elza Martinelli e muitos outros. Ano após ano as festas foram se sucedendo, mas o carnaval em Copacabana foi ficando reduzido até a criação de bandas que fizeram renascer o carnaval de rua.

Baile de Carnaval do hotel Copacabana Palace 1954

A primeira foi a Banda do Leme, criada em 1971, além desta desfilam a Bandida, da Rua Rodolfo Dantas ; a Banda Bomba, da Rua Bolívar ; a Banda da Boca Maldita, da Avenida Prado Junior ; e seguem-se as bandas das ruas Duvivier Paula Freitas Sá Ferreira Santa Clara Miguel Lemos  e várias outras.

Na década de 80, um bloco fundado na década de 1960, transformou-se em escola de samba, tornando-se Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Vila Rica, chegando ao Grupo de Acesso. Sua quadra de ensaios está localizada no Morro de São João, cuja entrada se faz pela Ladeira dos Tabajaras

A larga praia de Copacabana, em dias de sol, é um maravilhoso sorvedouro humano seminu que se aglomera na areia e na quebrada das ondas. Ali se reúnem todas as classes sociais e profissionais, democraticamente: são feitos negócios pequenos e milionários, são apostados centavos e milhões de dólares, são vendidos desde limonadas até caros apartamentos e aviões, se agrupam homossexuais, casais, famílias, times de futebol de areia, voleibol de areia, frescobol - esportes criados e profissionalizados em Copacabana -, concertos de música, vendedores de todos os tipos de quinquilharias, tudo ao mesmo tempo.

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