As calçadas de Copacabana, Rio de Janeiro, Brasil
A escritora Angela Carneiro, é nascida e moradora em Copacabana, em 1996 (23 anos atrás...) bem no inicio do Copacabana.COM nos enviou o texto e as fotos abaixo.
#Hashtag: #calcadao
Ah...as calçadas de Copacabana...Lembro-me perfeitamente de um concurso de Miss Universo quando a nossa representante surgiu nas passarelas com o seu traje típico. O motivo? As conhecidas calçadas de Copacabana.
As ondas do mar em uma metáfora visual que as pedras portuguesas permitem. Permitem? Permitiam.
Pois agora, no ano de 1995, arrancaram as nossas pedras históricas, modificaram o sinônimo de Copacabana , substituindo-o por um cimento cinza e sujo de morte.
Cada pedra que tiram é uma célula que morre no meu coração.
De repente, ao olhar as obras, me dei conta de que meus netos não saberão como o Rio era lindo, como as calçadas de Copacabana registravam belos florões, gregas, miniaturas das ondas da orla.
Assim, de máquina em punho, saí fotografando o que sobrava. Me perdoem as duas ruas que ficaram sem registro. A máquina da burra modernidade já as tinha dilacerado e com elas algumas recordações.
Integração.
Esta é a palavra. As pedras portuguesas permitem desenhos que penetram nos pátios dos edifícios, que integram as praças às calçadas. Também registram a época da sua construção. As amebas que estiveram tão em voga nos anos quarenta! Como na calçada da Rua República do Peru.
A Praça Serzedelo Correia que, apesar das necessárias grades, não afasta os transeuntes
de seus descansos pois as pedras portuguesas os convidam para o lazer.
O xadrez na Nossa Senhora de Copacabana. Um jogo de damas?
Uma referência aos jogos no Posto 6?
Preferência da novíssima Pizza Hut que foi destruída.
Edifício na Toneleros. Mais uma demonstração da integração das calçadas na entrada.
E cada rua deixa sua assinatura, sua marca individual, sua história, sua preferência.
Ao anoitecer nós brincávamos as cinco pedrinhas nos degraus da porta de casa.
Graves, como convém a um Deus e a um poeta como se fosse um perigo muito
grande deixá-las cair ao chão.
Estes versos de Fernando Pessoa parecem contar a
história da infância de quem a passou em Copacabana.
-Quem pisar na linha pisa na vovozinha!
-Só vale pisar no preto!
Saltando, nos esforçávamos para conseguir a façanha: chegar em casa sem pisar nas pedras brancas! Como num jogo de Amarelinha, às vezes em fila indiana, outras com um pé em cada faixa, lá íamos nós. Felizes!
Esses motivos eram os mais frequentes na Nossa Senhora de Copacabana. Os mais felizes.
CRIATIVIDADE!!!
As estrelas caem do céu. Aqui estão (estavam) na esquina da Figueiredo Magalhães.
Marcas, símbolos, logotipos. Belas permissões das pedras portuguesas. Como esses exemplos:
Colégio Sagrado Coração de Maria | Grupo Imobiliário | Peixe Vivo
Mesmo mal conservadas, conservam seus jogos. Soluções criativas das esquinas,
e a integração dos bueiros. O círculo toma parte no jogo. Não chocam.
E Agora José?
Pergunta a calçada,
que por ser de pedra portuguesa pode assim perguntar.
Questionam numa homenagem ao poeta Carlos Drummond
de Andrade na fronteira entre Copacabana e Ipanema.
Agora?
Agora a festa acabou.
Temos no lugar das pedras um cimento sujo.
Um cimento que já nasceu morto, como podem verificar.
Cada pingo de água, cada gota de óleo, deixa uma marca indelével.
Os bueiros saltam, machucam os olhares.
O granito dos meio-fios foi substituído por concreto.
E por quê? Pergunta meu coração.
As pedras portuguesas nunca fizeram mal a ninguém. Se havia reclamações era pela falta delas, pela falta de manutenção. Esta sim, deixava buracos e quedas. E ainda, se os saltos finos dos sapatos se prendiam em suas brechas, também era por causa da má colocação.
Dizem que as pedras não são a melhor pavimentação de calçadas. Mas, se não o são para Copacabana, por que serão mantidas em outros locais? Por que a Ilha do Governador, que nunca as teve, as recebe? São de difícil conservação? E o cimento? Também ele não é perfurado pelas nossas chuvas? E onde está a garantia que ele será conservado ?
Numa memória ao que era, resolveram deixar esses motivos em pedra portuguesa.
Motivos que nunca pertenceram à Copacabana. E o pior:
quando as calçadas são mais estreitas,
o motivo se mantém, cortado!
E este é o nosso triste futuro!
Um cimento rompido, emendado, rachado.
Feio, sujo, cinza, triste.
Com guimbas e lixo nas emendas.
Eu prefiro as cores!
Como existiam nas calçadas do Cinema Roxy e da Barata Ribeiro.
Angela de Azevedo Carneiro (c)1996 editado por Marcelo Antelo (c) 1996 - 2016
Angela Carneiro, é nascida e moradora em Copacabana.
Professora da FAU/UFRJ - Escritora de livros infanto-juvenis.
Prêmio Jabuti 1993
Prêmio Autor Revelação 1993
Livros
Publicados
Título - Editora
Qual O Caminho do Sol? - José Olímpio
Caixa Postal 1989 - José Olímpio
Vestibilhar de Medicinuca - José Olímpio
Meu olho é um planeta - José Olímpio
Caixa Surpresa - Ediouro
Coleção 12 olhos e uma história (seis volumes) - Ediouro
Coleção Eles São Sete (sete volumes) - Ediouro
Um Pouco Aqui, Um Pouco Lá - Augustus
O Primo do Amigo do Meu Irmão - Quinteto
O Inventor de Palavras - José Olímpio
(c) 1996 Angela Carneiro, usado por Copacabana.COM com permissão.